E o que tinha o Jeca Tatu?

Queridos professores, alunos e leitores,

No post de hoje trago um texto sobre uma das verminoses mais conhecidas no Brasil: o amarelão. O texto e as imagens que escolhi para trabalharmos essa doença fazem parte da obra de Monteiro Lobato, cujo personagem principal é o Jeca Tatu.

Monteiro Lobato foi um dos grandes escritores brasileiros, cujas histórias infantis são conhecidas até hoje, como “Reinações de Narizinho”, “Emília no País da Gramática” e “Histórias de Tia Nastácia”. Um dos seus personagens mais conhecidos é o Jeca Tatu, da obra “Urupês”.

Jeca Tatu era descrito como um caboclo simples, que andava descalço, sempre cansado, apático e com a pele amarelada. Jeca tinha a doença ancilostomose, também conhecida como amarelão. A ancilostomose ou amarelão pode ser causada por duas espécies distintas de nematelmintos: o Ancilostoma duodenalis e o Necatur americanus. Esses vermes possuem um aparelho bucal modificado, que provoca sangramentos na mucosa intestinal, de onde o parasita se alimenta. Os sintomas que o personagem Jeca Tatu apresenta são condizentes com os da doença: anemia (fraqueza), pele amarelada, cansaço extremo, diarréia.

A ideia dessa aula é que o professor passe trechos e imagens do personagem escrito pelo Monteiro Lobato aos alunos e assim trabalhe as características da doença. Veja abaixo as imagens e trechos que podem ser trabalhados:

 

amarelao

Nessa imagem de uma propaganda de remédio da época podemos verificar alguns dos sintomas que o Jeca apresentava que são relacionados à doença: “dor na cacunda, palpitação, canceira [sic]..”. Na propaganda, Monteiro Lobato se refere a doença de Jeca como amarelão e que ela é causada por uma “bicharia”.

jeca-tatu

Nessa imagem podemos ver que Jeca Tatu andava descalço, o que facilitava o contágio pelo verme causador do amarelão através da sola dos pés. Além disso, é possível ver sua pele pálida e amarelada, um dos sintomas da doença.

Trecho de uma propaganda da época

(…) Jeca Tatu era um pobre caboclo que morava no mato, numa casinha de sapé. Vivia na maior pobreza, em companhia da mulher, muito magra e feia e de vários filhinhos pálidos e tristes.(…)

(…) Jeca Tatu era tão fraco que quando ia lenhar vinha com um feixinho que parecia brincadeira. E vinha arcado, como se estivesse carregando um enorme peso.(…)

(…) Um dia um doutor portou lá por causa da chuva e espantou-se de tanta miséria. Vendo o caboclo tão amarelo e chucro, resolveu examiná-lo.

Amigo Jeca, o que você tem é doença.

Pode ser. Sinto uma canseira sem fim, e dor de cabeça, e uma pontada aqui no peito que responde na cacunda.
Isso mesmo. Você sofre de anquilostomiase.
Anqui… o quê?
Sofre de amarelão, entende? Uma doença que muitos confundem com a maleita.
Essa tal maleita não é a sezão?
Isso mesmo. Maleita, sezão, febre palustre ou febre intermitente: tudo é a mesma coisa, está entendendo? A sezão também produz anemia, moleza e esse desânimo do amarelão; mas é diferente. Conhece-se a maleita pelo arrepio, ou calafrio que dá, pois é uma febre que vem sempre em horas certas e com muito suor. O que você tem é outra coisa. É amarelão.

O doutor receitou-se o remédio adequado; depois disse: “E trate de comprar um par de botinas e nunca mais me ande descalço nem beba pinga, ouviu?” (…)

(…) Veja, sêo Jeca, que bicharia tremenda estava se criando na sua barriga! São os tais anquilostomos, uns bichinhos dos lugares úmidos, que entram pelos pés, vão varando pela carne adentro até alcançarem os intestinos. Chegando lá, grudam-se nas tripas e escangalham com o freguês. Tomando este remédio você bota p’ra fora todos os anquilostomos que tem no corpo. E andando sempre calçado, não deixa que entrem os que estão na terra. Assim fica livre da doença pelo resto da vida.
Jeca abriu a boca, maravilhado. Os anjos digam amém, sêo doutor! (…)

– Esses trechos podem ser usados para se trabalhar o ciclo da doença e a maneira de infestação pelo parasita, além também dos principais sintomas da doença- 

Os trechos e as imagens do Jeca Tatu podem ser passadas pelo professor para que o aluno identifique características importantes da doença, como modo de infestação, sintomas, ciclo de vida do parasita, profilaxia. Além disso, os conceitos biológicos são tratados em um contexto diferente dos livros didáticos e também é treinada a interpretação de texto e imagens por parte dos alunos.

É importante que o professor reforce os seguintes conteúdos durante a aula:

– características do nematelmintos;

– ciclo de vida do parasita;

– sintomas da doença (pode ser visto pelo texto e imagens);

– importância dos hábitos de higiene pessoal;

– importância do saneamento básico.

Essa aula, além de salientar os aspectos de uma das verminoses mais importantes do país, também apresenta aos alunos um escritor muito importante na literatura brasileira, que é Monteiro Lobato.

Qualquer dúvida ou comentário, deixe na página!

Até a próxima,

Professora Nathália

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Para saber mais

[1] Fonte das imagens do post: https://www.ufmg.br/boletim/bol1705/

[2] Fonte do trecho do texto da propaganda: http://www.miniweb.com.br/literatura/artigos/jeca_tatu_historia1.html

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